São Karl Marx: a beatificação de um homem pela crítica vulgar

É verdade que muitos marxistas têm contribuído para a beatificação de Marx, mas é na crítica miúda que encontramos aqueles

São Karl Marx: a beatificação de um homem pela crítica vulgar

É verdade que muitos marxistas têm contribuído para a beatificação de Marx, mas é na crítica miúda que encontramos aqueles que mais se empenham em endeusar o fundador do socialismo científico.

Marx, para esses fervorosos detratores, tinha que ter dado conta de todos os assuntos possíveis da humanidade. Em 2013, em um evento realizado na UFAL, um participante questionou a grave falha de Marx em não ter previsto todo o avanço da tecnologia espacial.

Já outros exigem que Marx, em seus escritos do século XIX, dê conta de forma aprofundada de questões como racismo e a igualdade de gênero. E mais! cobram do mouro uma posição decolonial (para usarmos um termo que é modinha acadêmica)

Ou seja, para esses críticos não há qualquer dúvida de que Marx é no mínimo um semi-deus. Deve, portanto, dominar a onisciência. Nessa transubstanciação do velho barbudo, confessamos, tem parte muitos marxistas que por motivos diversos acabam distorcendo a teoria marxiana.

Esse é um fenômeno até natural na história, e que deve ser levado em consideração não apenas por simpatizantes ou por estudantes sérios, mas também pela crítica devota. Esta precisa aceitar a humanidade de Marx.

Numa carta de Ruge à Feuerbach em 1844, tomamos conhecimento desse lado mundano de Marx: “Ele tem uma personalidade peculiar – perfeito como erudito e escritor, mas completamente desastroso como jornalista. Lê muito, trabalha com uma intensidade incomum e tem um talento crítico que de vez em quando degenera numa dialética temerária. Mas não termina nada, interrompe tudo e volta a mergulhar num oceano de livros. […] É irritadiço e exaltado, particularmente quando trabalha até adoecer e não vai para a cama por três, até quatro noites seguidas”.

Quem poderia imaginar? Marx era uma pessoa, que estudava, adoecia, se irritava, tinha contas para pagar, inclusive em atraso, como ele próprio relata numa carta para Engels. Só a crítica rasteira pode querer exigir de um ser humano habilidades divinas.

Marxistas podem até ter contribuído na beatificação, mas é a crítica vulgar que ergueu o altar e o proclamou São Marx. Para depois acusá-lo de um pecado terrível: ser humano.