Ameaça de greve na UECE e a falha da via política

Por Jadzia Dax

17 de março - 2021

Imagem: Governo do Estado do Ceará

Ano após ano a história se repete, como tragédia, obviamente. As mudanças tão esperadas no novo (que já nasce velho) governo lulo-petista parecem distantes. Ainda que alguns, ou melhor, que muitos alimentem ainda uma esperança ingênua, as coisas parecem caminhar de mau a pior. Pelo menos é o que podemos perceber na educação

A Universidade Estadual do Ceará (UECE) é testemunha e vítima, juntamente com seus docentes e principalmente seus discentes, de que a política partidária tem falhado miseravelmente. Os universitários convivem com a constante ameaça de greve, que ao nosso ver, tem tardado em chegar.

Existem cursos na UECE que faltam quase vinte professores, deixando os estudantes apreensivos até mesmo com a possibilidade de não poderem concluir seus cursos dentro do período regular. E isso tudo, vale dizer, depois do governo do Estado (petista) ter realizado “o maior concurso público docente realizado no Brasil”.

A realidade, entretanto, faz ruir toda a pompa do governo. A carência de professores, de técnicos administrativos, para não falar da estrutura dos camping, dilui a maquiagem de segunda com a qual o governo pinta a UECE. Mais que isso, é um soco no estômago daqueles que tanto esperam da via política e da esquerda politiqueira.

Mesmo assim, pasmem! Alguns docentes da UECE não veem problema algum em realizar eventos que são verdadeiras apologias ao governo e a estes políticos. Algo que deveria minimamente causar vergonha.

Enquanto estes exaltam um governos e políticos que sucateiam a universidade pública, estudantes estão correndo o risco de atrasarem seus cursos, nos quais depositam a última esperança na perspectiva de um futuro digno para si e suas famílias. É com o futuro de milhares de filhos e filhas de trabalhadores que essa gente está brincando.

Para piorar, os apologistas dos politiqueiros querem fazer com que os universitários entendam que a solução para todos os problemas são as políticas públicas. Uma ideia perigosa de que, apesar de tudo, politicamente tudo será resolvido, bastando para tanto elegermos um político menos pior.

Assim, é preciso que fique muito claro: a UECE que é necessária aos universitários, não será entregue pelo Estado. E não é por escassez de recursos ou incompetência, ao contrário, é justamente por ser muito competente na sua função (administrador dos interesses da burguesia), que o Estado vai sempre privar os estudantes de uma educação que atenda às suas demandas ontológicas de classe.

Em todo esse cenário, várias reflexões são pertinentes. Uma delas é até que ponto estudantes e professores ficarão no limite das reivindicações e das greves, sendo que os que aqui se enquadram já são avançados em comparação com tantos outros. A própria greve já está por demais subsumida aos interesses do próprio Estado, há todo um protocolo a ser seguido, do contrário não será permitida.

Outra importante reflexão que devemos fazer considerando esse cenário é sobre o futuro, sobre até quando, de modo geral, continuaremos a acreditar no Estado e nas falsas soluções de seus representantes políticos. Não é de hoje que universitários da UECE sofrem por falta de professores, de estrutura e, especialmente em camping como a FECLESC, de restaurante universitário.

Desde sempre, diante da precariedade, greves e mais greves iniciaram e tiveram fim, sem que os problemas realmente fossem resolvidos – e nunca serão. Daí a importância de refletirmos sobre que melhorias essa nova greve – em gestação – poderá trazer. Será que essas melhorias bastam? Será realmente que o melhor caminho para professores e estudantes universitários é ficar no limite das lutas por melhorias (leia-se migalhas)?

Longe de nós querermos apontar saídas para um problema tão sério, que tem raízes muito mais profundas do que comumente aponta a esquerda identitária. Mas é fato que, pela experiência da história, pela desilusão do lulo-petismo, pelo constante mais do mesmo da política partidária, não há como negar que precisamos tentar enxergar algo para além do Estado burguês, dos limites do capitalismo.

Não há mais como os universitários negarem o quão falha tem sido as políticas públicas, não por erro de execução, mas pela sua própria natureza restrita aos interesses da burguesia. Não há mais como negar a importância da greve circunscrita às regras do próprio governo.

Por fim, não há mais como a UECE passar por mais uma greve e seus estudantes viverem novamente o medo do atraso na formação, na realização de seus sonhos, sem que se ponha a necessidade de pensar para além do que pode oferecer o Estado burguês.